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O Impacto do Bullying no Desenvolvimento Psicológico do Adulto

  • psigabrielladossan
  • 31 de mar. de 2022
  • 8 min de leitura

Atualizado: 6 de abr. de 2022

Trazemos informações sobre as consequências e o impacto a longo prazo sofrido por vítimas de bullying escolar, a fim de responder à questão: “Quais são os efeitos sobre os adultos que sofreram bullying durante a época escolar?".

O termo bullying vem do inglês bully, que tem como definição alguém que normalmente procura intimidar ou machucar aqueles que podem ser percebidos como vulneráveis. No Brasil, e em outros países, por conta da dificuldade de tradução para um termo significativo direto, escolheu-se manter a palavra em inglês. Entretanto, há alguns termos que se assemelham, como “valentão” e “tirano”.

De acordo com Binsfeld e Lisboa (2010) o bullying é definido como ações intencionais, que se repetem e têm caráter hostil e violento que não tenha motivação visível, na qual haja relação desproporcional de poder.

Albuquerque et al (2013) divide o bullying em quatro grupos, sendo eles: físico, verbal, relacional e sexual. No primeiro grupo temos os comportamentos que se dão via proximidade física, como chutes e empurrões; no segundo estão os comportamentos realizados por meio da fala, como xingamentos, ameaças e piadas; no terceiro grupos temos os comportamentos que atuam prejudicando as relações entre os colegas de sala, exemplo disso são as exclusões, disseminação de histórias de cunho mentiroso, etc; no último grupo temos os atos, comentários e indiretas que giram em torno de conteúdo sexual.

Outro modo de classificar o bullying é como direito ou indireto. Agredir, ameaçar, roubar, ofender verbalmente, se encaixam na classe de bullying direto. Em oposição, as condutas de excluir, difamar e agir com indiferença enquadram-se como bullying indireto. Um fato interessante é que, de maneira ampla, os meninos se envolvem mais com o bullying de forma direta e as meninas com o bullying de forma indireta, sendo este último mais complexo de reconhecer. (ISOLAN, 2014)

As crianças nem sempre têm a dimensão do que um ato cruel pode causar na vida de um colega, fazendo com que seja possível pensar que o bullying se desenvolve diretamente por questões sociais.

A normalização do bullying como a simples “brincadeira” onde se ofende um colega de turma, costuma ser naturalizada em casa, onde pais e mães carregam esse costume de brincar apontando defeitos um no outro, onde a criança acaba sendo vítima, e então tendo essa atitude com seus colegas.

De fato, a violência conceituada como bullying é observada nas escolas - e em outros ambientes como no trabalho, na casa da família, nas forças armadas, prisões, condomínios residenciais, clubes e asilos. (ANTUNES; ZUIN, 2008).

Atitudes, comportamentos e falas que machucam o outro não devem ser tratados como sendo “bobo” ou "simplista'', o bullying é algo de extrema importância, pois adolescentes e adultos frustrados e depressivos, podem tornar-se adultos suicidas. O bullying na infância e adolescência pode causar transtornos mentais no futuro, causando possíveis problemas de comunicação, sentimento de menosprezo e autoestima baixa.

Segundo Paixão; Patias e Dell'Aglio (2018) na adolescência a autoestima e a saúde mental tem papéis de extrema importância, por estar diretamente relacionada a boas vivências ou riscos durante esta fase de crescimento.

A autoestima é compreendida como um conjunto de sentimentos e pensamentos do indivíduo em relação ao seu próprio valor, competência, confiança, adequação e capacidade para enfrentar desafios, que repercute em uma atitude positiva ou negativa em relação a si mesmo. Ela é considerada um importante fator que influencia a forma de a pessoa perceber, sentir e responder ao mundo. A alta ou baixa autoestima relaciona-se às experiências da pessoa ao longo da vida, principalmente, as relacionadas à afeição, ao amor, à valorização, ao sucesso ou ao fracasso (PAIXÃO; PATIAS; DELL'AGLIO, 2018).

Outro estudo (Kavas, 2009 apud Paixão; Patias; Dell'Aglio, 2018) pesquisou sobre a ligação entre autoestima e comportamentos de risco à saúde como uso de substâncias viciantes como cigarros, álcool, entre outras drogas, em um grupo de adolescentes turcos. Como resultado obtiveram a resposta de que, de fato, há uma alta relação entre a autoestima negativa e o uso e abuso dessas substâncias.

A autoestima também pode ser usada como unidade de medida entre a rede de apoio e a ideação ou pensamentos suicidas, onde quanto mais apoio o adolescente recebe, maior sua autoestima, resultando na diminuição das ideações suicidas.(PAIXÃO; PATIAS; DELL'AGLIO, 2018)

Como sinais comportamentais, as vítimas de bullying, segundo Schultz (2012), tendem a colocar empecilhos para ir à escola, como se sentir indisposta, com dores de cabeça ou estômago, assim como vômito ou disenteria. Podem pedir mudança de sala ou escola, a fim de evitar sofrer bullying. Há também o sentimento desmotivador em relação aos estudos, sendo provável diminuição das notas e problemas de concentração. Ponto importante a ser observado pela família é se a criança ou adolescente volta da escola triste ou irritada, assim como verificar se os materiais estão sujos ou estragados de alguma forma. Se houver obstáculos para se relacionar com colegas de classe, dificuldade em fazer amigos ou mantê-los e isolar-se de pessoas que não sejam familiares, é um sinal de que a criança pode ser vítima de bullying escolar.

Neto (2005), traz uma tabela com sinais e sintomas possíveis de serem observados em alunos alvos de bullying: enurese noturna; alterações do sono; cefaleia; dor epigástrica; desmaios, vômitos; dores em extremidades; paralisias; hiperventilação; queixas visuais; síndrome do intestino irritável; anorexia; bulimia; isolamento; tentativas de suicídio; irritabilidade; agressividade; ansiedade; perda de memória; histeria; depressão, pânico; relatos de medo; resistência em ir à escola; demonstrações de tristeza; insegurança por estar na escola; mau rendimento escolar; atos deliberados de autoagressão.

Dentro dos estudos de Neves (2021), podemos observar o alto nível de ansiedade, “a presença de uma inadequada expressão dos afetos, assim como aspectos ligados à depressividade”, sendo possível a aparição de sentimentos de derrota e pensamentos suicidas, assim como outros aspectos físicos e mentais semelhantes. Há também a expressão de “agressividade, irritabilidade, ressentimentos, sensações de abandono e separação''. Os resultados também indicam tendências ao perfeccionismo, meticulosidade exagerada, rigidez, exemplos típicos de mecanismos de defesa da neurose obsessiva.

Carlisle e Rofes (2007 apud ALBUQUERQUE; WILLIAMS; D’AFFONSECA, 2013) recomendam a realização de outros trabalhos e pesquisas com a temática do impacto e consequências prolongadas do bullying, baseando-se no fato de que alguns adultos vítimas de bullying sofrem de “hiperexcitação crônica do Sistema Nervoso Central (altos níveis de medo, ansiedade e irritabilidade)”, assim como sonhos intrusivos, pensamentos teor de vingança em relação à escola, além do mais, de podem demonstrar resistências ao lidar com figuras de autoridade.

Os autores Ateah e Cohen (2009) conduziram um estudo com 1.007 estudantes universitários dos Estados Unidos e 210 do Canadá, com o intuito de analisar a relação entre bullying e o desenvolvimento de sintomas de Transtorno de Estresse Pós Traumático. Ao final do estudo, foi provado que sim, adolescentes que sofrem bullying podem experienciar sintomas de TEPT devido a essas agressões sofridas. Os ataques mais citados e lembrados como “piores” foram os de origem verbal e relacional, ou seja, esse tipo de violência leva a grandes e negativas consequências quanto a saúde mental e o bem estar desses adolescentes.

Outro estudo realizado com 154 estudantes universitários da Irlanda com idade entre 17 e 55 anos, por meio do questionário Student Alienation and Trauma Survey (SATS), seguindo os critérios do DSM-IV. Como resultado os autores obtiveram, assim como nos estudos anteriores, que a violência verbal e relacional são as que trazem mais consequências negativas para a vida adulta. Quanto aos sintomas de TEPT, 19,4% dos participantes faziam parte da categoria “em risco” e 6,2% estavam na categoria “clinicamente significativos”, evidenciando a correlação entre a vitimização na escola e saúde mental destes indivíduos. (MC GUCKIN, et al 2011)

Para a visão brasileira, temos um estudo feito por Williams et al. (2011), que contava com 81 estudantes universitários, com idade média de 21 anos, com 54% pertencente à faixa etária entre 19 e 21 anos; tendo como instrumento uma versão traduzida do questionário SATS, sendo possível constatar que 49% dos participantes apresentou sintomas de TEPT.

Ao longo dos estudos pôde-se analisar o que causa em uma pessoa passar sua infância ou adolescência sofrendo bullying. O bullying costuma ser muito praticado em escolas, pois é exatamente quando as crianças e adolescentes se deparam com pessoas diferentes das que costumam conviver, seja fisicamente, financeiramente ou outros. Diante disso, começam então as práticas de comentários maldosos e humilhações, provocando a ação do bullying.

Tendo como base os diversos estudos com o tema bullying podemos tirar como conclusão a importância da ajuda de um profissional da área da psicologia.

O psicólogo é o profissional apto para realizar um trabalho de prevenção e enfrentamento da violência escolar, ajudando a escola a construir espaços e relações mais saudáveis. Mas, para isso, é de fundamental importância que ele esteja inserido no ambiente da escola, participando do seu cotidiano para que possa ter uma atuação específica e mais voltada à realidade.(FREIRE; AIRES, 2012)

O papel do psicólogo, como profissional da área de saúde mental, é ajudar os indivíduos a superar ou pelo menos aprender a lidar e conviver com as sintomatologias desenvolvidas como consequência de ser vítima do sofrimento do bullying durante a idade escolar, especialmente na adolescência.

O bullying envolve situações sociais, financeiras e familiares; diante disso a procura pela ajuda é o que poderá salvá-lo da possibilidade de desenvolver depressão, crises de ansiedade, síndrome do pânico, entre outros fatores que poderão ser ampliados ao ser colocado em situações críticas como as provocações repetidas que costuma ser feita nas práticas de bullying.

É imprescindível eliminar o pensamento de que o bullying “é apenas uma brincadeira” e começar a enxergar de modo crítico os assédios morais que são praticados contra o próximo, pois tornou-se muito comum a utilização de apelidos em escolas, quando se trata de pessoas gordas, negras, que usam óculos ou minorias sociais em geral, acarretando a normalização de um ato tão cruel, e de extremo impacto a quem é ofendido .

Gabriella dos Santos

CRP 06/177853

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, P. P; WILLIAMS, L. C. A; D’AFFONSECA S. M. Efeitos tardios do bullying e transtorno de estresse pós-traumático: uma revisão crítica. Psicologia: Teoria Pesquisa: Brasília, Vol. 29, Nº 1, pág 91 – 98, Mar 2013.


ANTUNES, D. C.; ZUIN, A. Á. S. Do bullying ao preconceito: os desafios da barbárie à educação. Psicologia & Sociedade [online]. 2008, v. 20, n. 1, pp. 33-41.


ATEAH, C; COHEN, I. School Victimization and Bullying Experiences: Cross-national Comparisons Between Canada and the United States.Currents: New Scholarship in the Human Services, Vo 8, N 1, 2009.

BINSFELD, A. R., & LISBOA, C. S. de M. Bullying: Um estudo sobre papéis sociais, ansiedade e depressão no contexto escolar. Interpersona: An International Journal on Personal Relationships, Vol 4, n 1, pág 74-105. 2010


FALKENBACH, D. M., HOWE, J. R., & FALKI, M. (2013). Using self-esteem to disaggregate psychopathy, narcissism, and aggression. Personality and Individual Differences, 54, 815-820 apud PAIXÃO, R. F; PATIAS, N. D; DELL'AGLIO, D. D. Autoestima e sintomas de transtornos mentais na adolescência: variáveis associadas. Psicologia Clínica e Cultura • PsicTeor. e Pesq. v 34, n 34436. 2018.


FREIRE, A. N.; AIRES, J. S. A contribuição da psicologia escolar na prevenção e no enfrentamento do Bullying. Psicologia Escolar e Educacional [online]. 2012, v. 16, n. 1, pp. 55-60.


ISOLAN, L. Bullying escolar na infância e adolescência. Rev. Bra. Psicoter. Vol. 16, n 1, pág 68-84, 2014.

KAVAS, A. B. (2009). Self-esteem and health-risk behaviors among Turkish late adolescents. Adolescence, 44(173), 187-198. apudPAIXÃO, R. F; PATIAS, N. D; DELL'AGLIO, D. D. Autoestima e sintomas de transtornos mentais na adolescência: variáveis associadas. Psicologia Clínica e Cultura • PsicTeor. e Pesq. v 34, n 34436. 2018.


MC GUCKIN, C., LEWIS, C. A., CUMMINS, P. K., & CRUISE, S. M., The stress and trauma of school victimization in Ireland: A retrospective account., Psychology, Society, & Education, 3, 1, pag 55-67, 2011


NETO, A. A.L. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal do pediatra. J Pediatr (Rio J). 2005;81(5 Supl):S164-S172.


NEVES, R. C. Adolescentes que sofreram bullying: avaliação do impacto psíquico com métodos projetivos (Escola de Paris). 158 f., il. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clinica e Cultura)—Universidade de Brasília, Brasília, 2021.


PAIXÃO, R. F; PATIAS, N. D; DELL'AGLIO, D. D. Autoestima e sintomas de transtornos mentais na adolescência: variáveis associadas. Psicologia Clínica e Cultura • PsicTeor. e Pesq. v 34, n 34436. 2018.


SCHULTZ, N. C. W et al. A compreensão sistêmica do bullying. Psicologia em Estudo. Vol. 17, n 2, pág 247-254. Epub 20 Nov 2012.

WILLIAMS, L. C. A. et al . Efeitos a longo prazo de vitimização na escola. Gerais, Rev. Interinst. Psicol., Juiz de fora, v. 4, n. 2, p. 187-199, dez. 2011.




 
 
 

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